sábado, 16 de abril de 2016

MATANDO CARPINEJAR


Por Fabrício Carpinejar.


Não admitimos o ódio quando amamos. Somente admitimos quando separamos. Por isso que é incompreensível a mudança radical de opinião da ex. De um dia para outro.

Ela não mudou, escondeu. Não foi coroada por uma epifania, muito menos decidiu ouvir suas amigas.

O ódio já existia durante o relacionamento, fazia suas economias, seus investimentos, separava frases, ofensas e diálogos para fundamentar a distância. Ela é que não confessou por medo de ser inconveniente ou para se preservar e não ser taxada de neurótica.

Se não agimos com naturalidade com os nossos pensamentos, como seremos espontâneos?

Ao não estragar o momento, estragamos - num único rasgo - a vida inteira a dois. O que deixamos de contar nos enfraquece e será cobrado igual, com a mesma severidade se fosse usada a franqueza.

Censurar o ódio é anular parte do amor e de sua revanche. Quem nunca diz que odeia reprime a própria cura. Adoece o quarto e contaminas as roupas.

Partilhar a raiva é a maior demonstração de ternura que conheço. É permitir que o par cuide e conheça nossa vulnerabilidade. Só o maniqueísmo não sente vergonha. Só a perfeição não pode se apaixonar.

Eu tenho ganas de destruir minha namorada, raivas de aniquilar, vontade de abrir suas córneas e beber seu passado. Não é sentimento vão e passageiro, desejo que desapareça de minha frente para chamá-la em seguida com todo o desespero. Para perdoá-la, eu me perdôo primeiro. Aceito minhas maldades imaginárias.

Amor pleno é quando o ódio termina também sendo correspondido.

Cínthya Verri criou o blog Matando Carpinejar. Ela me destroça nos desenhos para me preservar a seu lado. Há um mês, carrega um caderninho para retratar violências e apressar o inferno.

Curioso que me assassina e sofre junto, tem um pesar autêntico no meio dos traços. Conversa com a ilustração:

- Coitadinho! Que pena isso estar acontecendo.

Demonstra que seu ciúme não é burro, é bem inteligente.

Não é fácil. Confesso que fico cansado de tanta ressurreição




sexta-feira, 15 de abril de 2016

Entre Amantes



Rodolfo Pamplona Filho



O que é ser
o outro
na vida de alguém?
É aprender
a se sentir solto
e viver além.

Definitivamente,
é se ver
mais como gente
que tem de aprender
a ficar contente
em receber

não aceitação,
mas muito carinho,
tolerância e compreensão;
não fidelidade,
mas muitos beijinhos,
respeito e verdade;

e - claro! - amor de sobra
dos dois lados da moeda,
devolvendo, com dobra,
tudo que se entrega,
sabendo que o futuro é agora
e que todo tempo é só um instante,
quando toda espera é demora
para ser, da vida, um amante.

Aracaju, 09 de dezembro de 2011.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

A saudade e a busca pela felicidade





João Vitor Alves

O que te faz feliz?
Você é feliz?
Quem lhe faz feliz?

É curioso notar como a distância aproxima,
como a saudade reanima...
faz ver o não visto!

Estar perto e longe,
próximo e distante,
permite ir adiante...
na busca pela felicidade!

Em qualquer idade,
a saudade responde...
ao que se entende por felicidade.

Salvador, 30 de novembro de 2011.



quarta-feira, 13 de abril de 2016

Constatação Óbvia


Rodolfo Pamplona Filho




Quanto mais o tempo passa,
quanto mais velho eu fico,
mais a vida adulta parece ser
aquele treco frustrante e idiota
que te impede de ler HQ's...


Salvador, 28 de julho de 2013.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Incelença pra terra que o Sol matou



Elomar Figueira Melo





Levanto meus olhos
Pela terra seca
Só vejo a tristeza
Qui disolação
E uma ossada branca
Fulorano o chão

E o passu-Rei, rei do manja
Deu bença à Morte pra avisa
Prus urubu de otros lugá
Qui vince logo pra janta
Do Rei do Fogo e do lũá

Do lũá sizudo
Do Ri Gavião
Mais o sol malvado
Quemô so imbuzero
Os bode e os carneros
Toda a criação
Tudo o sol quemô

É qui tão as era
Já muito alcançada
A palavra vea
Reza qui havéra
De chegá um tempo
Só de perdedera

Qui só havéra de iscapá
Burro criolo e criação
Qui pra cumê levanta as mão
E qui um irmão pra otro irmão
Saudava c'essa pregação

Lembra qui a morte
Te ispera meu irmão
E o sol da má sorte
Rei da tribusana
Popô sussarana
Carcará ladrão
Isso o sol popô

Mais num há de sê nada
Na função das besta
Purriba da festa
Pirigrina a fé
Sei que ainda resta
Cururu-têtê

Na minha casa hai um silenço
A tuia pura e o surrão penso
O meu cachorro amigo menso
Deitô no chão ficô in silenço
E nunca mais se alevanto

Inté os olhos d'água
Chorô qui seco
E o sol dessas mágua
Quemô so imbuzero
Os bode e os carneros
Toda a criação
Tudo o sol quemô

No Ri Gavião
Tudo o sol quemô
Toda a criação...


segunda-feira, 11 de abril de 2016

O QUE UM PROFESSOR É CAPAZ DE FAZER...







Esta é especial pra quem ja foi professor, senão pra quem já foi aluno.

O fato narrado abaixo é real e aconteceu em um curso de Engenharia da USJT (Univ. São Judas Tadeu), tornando-se logo uma das 'lendas' da faculdade.

Na véspera de uma prova, 4 alunos resolveram chutar o balde: iriam viajar juntos. Faltaram a prova e então resolveram dar um 'jeitinho'. Voltaram a USJT na terça, sendo que a prova havia ocorrido na segunda. Então, dirigiram-se ao professor:

- Professor, fomos viajar, o pneu furou, não conseguimos consertá-lo, tivemos mil problemas, e por conta disso tudo nos atrasamos, mas gostaríamos de fazer a prova.

O professor, sempre compreensivo:

- Claro, vocês podem fazer a prova hoje a tarde, após o almoço.

E assim foi feito. Os rapazes correram para casa e racharam de tanto estudar, na medida do possível. Na hora da prova, o professor colocou cada aluno em uma sala diferente, sem qualquer meio de comunicação com o mundo externo e entregou a prova:

Primeira pergunta, valendo 0,5 ponto: Escreva algo sobre 'Lei de Ohm'.

Os quatro ficaram contentes pois haviam visto algo sobre o assunto. Pensaram que a prova seria muito fácil e que haviam conseguido se dar bem.

Segunda e última pergunta, valendo 9,5 pontos :

'Qual pneu furou???'



domingo, 10 de abril de 2016

Trocando a Palavra pela Carne (soneto)


Rodolfo Pamplona Filho





Aqui estou, enfrentando o presente,
refletindo sobre o querer,
mas desejando ardentemente
que eu não precisasse escrever,

mas, sim, que a palavra fosse o beijo
e a vírgula virasse um abraço,
não havendo ponto no desejo,
sendo as reticências o nosso laço...

De todas as palavras, eu abriria mão
pela possibilidade da penetração,
passando essa noite imensa em você

mergulhando em seu cheiro,
no seu gosto, nos seus pêlos,
para uma paixão na carne viver.

Salvador, 08 de dezembro de 2011.