sábado, 19 de abril de 2014

Nossa caminhada

Nossa caminhada

Desde o início, era só amizade,
Mas com a força do tempo, tudo mudou
Em noite bela de pura felicidade,
O amor se revelou...

Iniciou-se uma história
De carinho e atenção
Os desejos aumentavam
E com eles a paixão

Passos largos foram dados
Em uma direção
E nessa caminhada
Entreguei-lhe meu coração

Chegou-se a tempestade
Como chuva de verão
Só que a tranqüilidade
Vem trazer a salvação

Nessa estrada da vida
Não dá para ir de salto alto
Pois é longa nossa jornada
Mas o amor fala mais alto.



José Adailan

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Poetas

Poetas

Rodolfo Pamplona Filho
Poetas
Poetas vivem
Poetas vivem no mundo
Poetas vivem em um mundo paralelo:
o mundo das percepções subjetivas,
observações iluminadas
por um olhar diferenciado.
E é ai que está
todo o sentido da poesia...
Tornar o feio, bonito;
o inútil, útil;
o certo, duvidoso;
o duvidoso, certo;
o morto, vivo ou redivivo...
Salvador, 27 de maio de 2013, segunda-feira,

em um engarrafamento monstruoso na Av. ACM.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

As Dores de Soledade


As Dores de Soledade

Dele ela somente via a nuca. Queria ver o rosto, mas chegara tarde, por causa da demora do ônibus. O salão estava cheio, acomodara-se na última fileira. No ambiente, havia um cheiro de ódio. Maria da Soledade rescendia a amor. Ela estava louca de vontade de abraçar o filho, dar-lhe um beijo e perdoá-lo pelo feito ou não feito, porque pouco entendia dos acontecimentos. Ouvira falar que o filho sumido, agora aparecido, seria julgado por ter cometido um crime. Devia ser um engano e assim pensava com fé.
          Soledade e José tinham duas filhas. Sonhavam com um menino. Quando José Alfredo nasceu, o pai se orgulhou por breve tempo, mas logo substituiu esse sentimento por preocupação. Soledade, entretanto, acreditava ter recebido um chamado de algum lugar ignorado, para que colocasse as suas moléculas, átomos e poros a serviço daquele a que acabara de dar à luz. Os médicos lhe disseram que era pouca a chance de o menino sobreviver, só milagre o salvaria. O marido aconselhou que ela não se envolvesse tanto com o quase morto, para evitar dor maior. Mas a mulher não ouviu ou não quis ouvir e debulhou lágrimas e orações.  E, se milagre foi, não se sabe. Ao cabo de poucos dias, os médicos deram alta ao menino. Soledade levou o "embrulhinho" para casa. Era muito pequeno e frágil. Então, ela lhe deu do peito leite, amor e esperança. O menino vingou – como diziam as vizinhas – contra os prognósticos. Em pouco tempo, em peso, altura e aparência, não se diferenciava dos outros da idade. Porém cresceu esquivo, calado, introvertido e demonstrava, desde muito novo, certa crueldade, traduzida na mania de esmigalhar formigas e outros bichos do quintal.
          Quando José Alfredo fez oito anos, o pai morreu em um acidente do trabalho. Como além do serviço na fábrica José fizesse uns bicos como carpinteiro, a pensão que a família passou a receber era insuficiente para as despesas da modesta casa. Soledade foi trabalhar de faxineira. As filhas cuidavam de sua casa e ela da dos outros. O pouco tempo que lhe sobrava era gasto em mimos com o filho nascido quase morto.
          Talvez pelo seu jeito calado, José Alfredo foi perseguido por uma turma da escola. Eram seis meninos mais velhos. Rasgavam-lhe o uniforme e lhe batiam. Soledade não vencia as costuras de remendos. Passado certo tempo, chegou-lhe a notícia de que um deles havia sido espancado e estava no hospital. Havia quem jurasse ser obra de José Alfredo. Um por um, os agressores foram agredidos. Um deles teve a perna partida em vários lugares a golpes de barra de ferro. Outro ficou internado vários dias no hospital, com o crânio quebrado a pedradas. Havia o que entrara em coma, depois de ter grande parte do corpo queimado. Os demais sérias escoriações. Aqueles que conseguiam falar acusavam José Alfredo.  Esse negou com poucas palavras. Ninguém presenciara. Tudo bem planejado e no momento certo. Soledade preferiu acreditar no filho e o absolveu. O amor ofuscante de Maria a impedia de ver a gravidade da situação. Acarinhou o filho, em vez de repreendê-lo. Tratou-o como se fosse ainda o bebê do embrulhinho.
          Ele estava com dezessete quando sumiu. Nem avisou, nem deixou pista.
          O filho no banco dos réus.
          O homem de roupa preta apregoava, com voz de artista de televisão, as malfeitorias de Caladão, alcunha do meliante no submundo do crime.
          Soledade se negou a acreditar nas filhas quando elas lhe disseram ter vergonha de serem irmãs de Caladão. Não acreditara que o abominado bandido pudesse ser o seu filho. Recusava-se a ver os jornais exibidos por elas, se bem que, uma vez, olhou de relance um desenho em um deles e o homem retratado lembrava José Alfredo.  Havia mais de quinze anos que não o via. Pensou que talvez houvesse morrido, porque, em todo esse tempo, não lhe mandara notícia alguma.
         Ao ver a nuca do réu, teve certeza de quem era. Queria apertá-lo nos braços, homiziá-lo no seu colo, levá-lo consigo para sempre e terminar sua obra de mãe, tornando-o bom e caridoso.
          O homem de roupa preta dizia algumas palavras que ela não entendia. Parecia um linguajar estrangeiro. Outras, porém, ela conhecia muito bem. Ele queria trancafiar o seu filho por anos a fio. Dizia que o julgamento daquele dia, de um homicídio no qual o réu havia matado a amante com quarenta e seis facadas, era apenas um caso, porque a lista de malfeitorias era interminável.
          O homem falava bonito. Era moço e poderia ser seu filho também. Sentiu simpatia por ele e começou a acreditar no que dizia. Isso lhe trouxe aperto no peito e umidade nos seios secados na ânsia de salvar o bebê.
          Outro homem de preto tomou a palavra. Dizia ser o defensor do réu e pedia sua absolvição. Parecia se desculpar por fazer aquilo. Disse coisas que Soledade não entendeu e outras que a revoltaram. O homem estava, na verdade, acusando a ela por falta de atenção e carinho. Falava de um menino abandonado à própria sorte e que delinquira por culpa da família e da sociedade. Merecia absolvição ou atenuação da pena do crime passional que cometera, movido por violenta emoção provocada pela vítima.
          Soledade percebeu a confissão e a desculpa esfarrapada. Sentiu-se derrotada. Todo o esforço para trazer o filho à vida e nela mantê-lo. Agora, era acusada de levá-lo ao crime. O primeiro homem que falara devia ter razão. O filho transformara-se em um monstro desalmado. Ela já não queria beijá-lo nem levá-lo consigo.  Queria dar-lhe a sova não dada ao tempo certo. Relembrou o passado. Percebeu que José Alfredo, agora alcunhado de Caladão, jamais gostara dela e das irmãs. Pareceu-lhe que ele vivera a infância esperando o momento de partir e as usara como se fossem objetos, enquanto delas precisara. Lembrou-se dos bichinhos esmigalhados no quintal.
          O acusador com cara de ator de novela retomou a palavra. Ele pegou um papel e começou a ler o rol dos crimes praticados por Caladão. Os mais torpes eram seguidos de uma descrição detalhada. Assim foi feito no caso em que o réu assassinara aos poucos uma idosa diante do marido, para que ele dissesse onde estaria escondido um dinheiro que não tinha, e depois matara o velho. Também detalhou o caso da menina estuprada e depois morta diante da mãe e ainda o do menino sequestrado de quem o réu cortara dedo a dedo e remetera à família para exigir o resgate, subindo o preço a cada concordância com a remessa de outro dedo. A família conseguiu o dinheiro e entregou a Caladão. No local onde deveria ser encontrado o menino, estava o seu cadáver. As mãos sem dedos. O promotor continuou a narrar os crimes e, a cada detalhe dito pelo acusador, Soledade sentia um nó subir pelo seu corpo. Veio do útero, alcançou o peito, subiu pela traqueia, ultrapassou a faringe e chegou à boca. Ela teve vontade de matar o filho ali mesmo, com suas próprias mãos, pois, se dera a vida àquele ser desprezível, tinha o dever de tirá-la, em benefício de todos. Afinal, se era dela a culpa de tanto pecado, o melhor seria cortar o mal de uma vez.
          O promotor com cara de galã não parava de discorrer sobre as malfeitorias do Caladão. Soledade segurava aquela coisa doida que lhe entupia a garganta. Ela no fundo do auditório só podia ver a nuca do filho-monstro. O amor tanto transformado em ódio. Caladão virou o rosto. Soledade estremeceu. Súbito a garganta não conteve mais o grito dilacerante. Tremeram as luzes, ou isso pareceu acontecer. Ela se levantou e o grito rouco lhe abriu caminho. Não houve quem ousasse lhe barrar passagem.  Ela chegou diante do filho e o grito tornou-se estridente. José Alfredo, o Caladão, encolheu e ficou da estatura de um menino. O grito aumentou e o réu minguou ao tamanho de um bebê. E como o grito não parasse, ele virou um feto. Maria da Soledade o tomou nas mãos, agachou-se, levantou o vestido e, num aborto às avessas, enfiou o filho nas entranhas, correu pelo meio da multidão perplexa e sumiu porta afora.

 (Jairo Vianna Ramos)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Inspiração para a Poesia

Inspiração para a Poesia

Rodolfo Pamplona Filho
Eu faço poesia...
Eu faço poesia com tudo...
Alegria ou tristeza...
Feiúra ou beleza...
Dúvida ou certeza..
Pobreza ou riqueza...
Criação ou natureza...
Eu faço poesia com a vida... 

Salvador, 27 de maio de 2013, segunda-feira,

em um engarrafamento monstruoso na Av. ACM.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Efêmero


Se pudéssemos ter consciência do quanto nossa vida é efêmera, talvez pensássemos duas vezes antes de jogar fora as oportunidades que temos de ser e de fazer os outros felizes.
Muitas flores são colhidas cedo demais. Algumas, mesmo ainda em botão. Há sementes que nunca brotam e há aquelas flores que vivem a vida inteira até que, pétala por pétala, tranqüilas, vividas, se entregam ao vento.
Mas a gente não sabe adivinhar. A gente não sabe por quanto tempo estará enfeitando esse Éden e tampouco aquelas flores que foram plantadas ao nosso redor. E descuidamos. Cuidamos pouco. De nós, dos outros.
Nos entristecemos por coisas pequenas e perdemos minutos e horas preciosos. Perdemos dias, às vezes anos.
Nos calamos quando deveríamos falar; falamos demais quando deveríamos ficar em silêncio. Não damos o abraço que tanto nossa alma pede porque algo em nós impede essa aproximação. Não damos um beijo carinhoso "porque não estamos acostumados com isso" e não dizemos que gostamos porque achamos que o outro sabe automaticamente o que sentimos.
E passa a noite e chega o dia, o sol nasce e adormece e continuamos os mesmos, fechados em nós. Reclamamos do que não temos, ou achamos que não temos suficiente. Cobramos. Dos outros. Da vida. De nós mesmos. Nos consumimos.
Costumamos comparar nossas vidas com as daqueles que possuem mais que a gente. E se experimentássemos comparar com aqueles que possuem menos? Isso faria uma grande diferença!
E o tempo passa...
Passamos pela vida, não vivemos. Sobrevivemos, porque não sabemos fazer outra coisa.
Até que, inesperadamente, acordamos e olhamos pra trás. E então nos perguntamos: e agora?!
Agora, hoje, ainda é tempo de reconstruir alguma coisa, de dar o abraço amigo, de dizer uma palavra carinhosa, de agradecer pelo que temos.  
Nunca se é velho demais ou jovem demais para amar, dizer uma palavra gentil ou fazer um gesto carinhoso. 
Não olhe para trás. O que passou, passou. O que perdemos, perdemos. 
Olhe para frente!
Ainda é tempo de apreciar as flores que estão inteiras ao nosso redor. Ainda é tempo de voltar-se para Deus e agradecer pela vida, que mesmo efêmera, ainda está em nós. 
Pense!... Se você está lendo esta mensagem é porque ainda tem tempo!!!
Não o perca mais!...
Que Deus te abençoe!



Letícia Thompson

domingo, 13 de abril de 2014

Frei Germano - Cora Coralina

Frei Germano - Cora Coralina

Quando eu era menina
bem pequena,
pela minha porta,
pela minha rua,
pela minha ponte,
via passar
os frades dominicanos.
Túnica branca.
Larga correia na cintura
prendendo um rosário
de contas grossas.
Hábito solto.
Cruz ao peito.
Sapatões pesados.
Um chapéu grande, preto,
de abas presas, reviradas.
Às vezes, também,
conforme o tempo,
anacrônico, enorme,
um guarda-chuva
amarelado, abarracado.
Muito austeros.
Muito ascetas.
Muito graves.
Corria a lhes pedir benção,
ganhar santinho.
Frei Henrique.
Frei Constâncio.
Frei Manuel.
Frei Germano.
E quantos outros...
Já nem lembro os nomes.
Vinham de terras cultas,
distantes.
Falavam nossa língua
num sotaque estrangeirado,
com muitos erres.
Preocupavam-se demais
com os pecadores.
Queriam salvar todas as almas.
Exortavam sobre o inferno.
Contavam do purgatório.
Exaltando as maravilhas do Céu.
Frei Germano...
Quanto respeito, meu Deus!
Durezas de ascetismo.
Estatura invulgar de sacerdote.
Tão severo...
Tão alto...
descarnado.
Era a austeridade retratada,
fidelíssima,
vestindo sua imensa caridade.
Diziam até que trazia cilício
sobre a carne espezinhada.
Rigoroso nas regras de sua Ordem,
renunciava até mesmo ao consentido.
Desmaiava nos antigos jejuns,
carregando sobre si
a cruz pesada
dos pecados
da cidade.
Envergadura de atleta da Fé.
Embasamento,
sustentáculo
da Ordem de São Domingos.
Grande confessor.
Grande penitente.
Dignificou a Pátria onde nasceu.
Dignificou a Terra onde morreu.
Um dia - inda me lembro:
Apareceu sem avisar
na escolinha laica
da Mestra Silvina.
Minha escolinha primária...
Quanta saudade!
Muito manso,
muito humilde,
se fazendo pequenino,
propôs à Mestra
em dia certo da semana,
ensinar a doutrina
à meninada.
Cinquenta anos decorridos,
guardo na lembrança
sua figura austera,
retratada,
de velho santo.
E as lições aprendidas
do pequeno catecismo.
Como prêmio de aplicação
conservo daquele tempo,
recebido de suas mãos,
uma antiga História Sagrada
e uns santinhos que me têm valido
na aflição.
E sei até hoje
se me perguntarem
os "Novíssimos do Homem"
que nenhum leitor,
católico praticante,
dirá ao certo
sem rever de novo o catecismo.
Frei Germano...
No longo caminho de pedras, de quedas,
de ascensão, da vida percorrida,
nunca para mim
seu vulto
se perdeu no esquecimento.
Nunca.
E eu era apenas
guria pequenina
da escolinha primária
da Mestra Silvina...
E até hoje, guardião de minha fé,
vai me levando pela vida
Frei Germano.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou Cora Coralina, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi poeta e contista brasileira. Produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. Começou a escrever poemas aos 14 anos, porém, Publicou seu primeiro livro em 1965, aos 76 anos.