sábado, 9 de março de 2013

Musa Longínqua

Musa Longínqua

Rodolfo Pamplona Filho
Longe dos olhos
e perto do coração:
este é o resumo
da sensação,
que se tem
por alguém
que não está ao alcance
das mãos e do beijo,
mas que habita o seu desejo
como se fosse de mais ninguém...
Musa longínqua
do contato pessoal,
do toque da língua,
mas que é o ideal
de consumo e de descanso,
para quem só quer o remanso
de um amor tranquilo,
mesmo quando não físico...
E, se e quando der,
para ficar homem e mulher,
não restará pedra sobre pedra
da vontade que se realiza
e nunca mais fica incompleta
na relação que se eterniza...

Salvador, 26 de fevereiro de 2012.

sexta-feira, 8 de março de 2013

O DEVIDO PROCESSO LEGAL E A GALINHA

Resenha

O DEVIDO PROCESSO LEGAL E A GALINHA

M.Y.Minami[1]

Certa feita, em uma aula a que assistíamos do professor Fredie Didier Jr., este comparou o devido processo legal com Gizmo.  Para quem não lembra, Gizmo é um bichinho de um filme americano muito popular na década de 80 (Os Gremlins) possuidor de algumas características inusitadas: não poderia ser exposto à luz forte (a do sol, por exemplo, matava-o); não poderia ser molhado (pois se multiplicava) e, o mais importante, não poderia ser alimentado após meia noite (pois se tornava um Gremlin, a saber, um terrível monstrinho que a tudo destruía). Didier, em seu exemplo, utilizou justamente a segunda característica, ou seja, a capacidade que Gizmo possui de gerar, a partir de si, outras criaturinhas e sem perder suas características originais. Assim é o devido processo. Trata-se de um princípio gerador de outros princípios e que não perde seu conteúdo original. A comparação é perfeita. Em certa palestra, também ouvimos a Professora Teresa Wambier falar dos Gremlins comparando-os aos recursos que, por vezes, se multiplicam sem parar. Para nós, que ensinamos Processo, essas metáforas são sempre úteis para uma exposição mais didática de seus temas, às vezes áridos e de difícil assimilação.
Outro dia, em uma aula que ministrávamos sobre As Ondas de Acesso à Justiça de Cappelletti um aluno dos primeiros semestres indagou sobre o devido processo e sua capacidade de gerar princípios. Como se tratava de pessoa bem mais jovem do que nós, era certo que se falássemos em Gizmo, antes de aplicar a metáfora em si, teríamos de ensinar sobre os Gremlins e suas regras. Dois trabalhos, portanto. Resolvemos, destarte, comparar o devido processo com uma galinha! Vejamos o porquê.
i)                    A galinha gera ovos que se tornam pintinhos que, posteriormente, serão outras galinhas ou galos. As novas galinhas gerarão mais ovinhos etc. O devido processo, como a galinha, também gera outros princípios, cada um desses aptos a gerar mais princípios (ou mesmo regras).
ii)                  A galinha, ao gerar ovinhos, não deixa de ser galinha. O due process, ao gerar princípios, não deixa de ser o que é, ou seja, não tem seu conteúdo esvaziado.
iii)                E a comparação mais sutil. É sabido que pessoas abastadas e grandes empresas possuem maiores condições de contratarem grandes escritórios de advocacia e/ou, por vezes, podem esperar por longas demandas judiciais. Sua vantagem frente a litigantes individuais de parcos recursos é notória. Não são conclusões nossas. Em verdade, são lições conhecidas de Mauro Cappelletti em seus famosos estudos sobre acesso à justiça. E a galinha? A resposta vem em duas outras perguntas. Dos litigantes acima relacionados, quem mais sofrerá se não observado o devido processo e seus consectários? Os menos favorecidos. Considerando, agora, a galinha como fonte de alimentação, quem mais sofrerá na falta desse delicioso quitute e seu consectário mais famoso, o ovo? Mesma resposta: os menos favorecidos. Procure, por exemplo, em jantares mais refinados, galinha ou ovo. Se vierem, serão disfarçados em pratos de nomes esquisitos. Moral da história: os injustiçados são mais ávidos por um devido processo (e por galinha e ovo) do que os mais abastados. Parece uma comparação idiota, mas o aluno nunca mais esquecerá o alvitre.
Um ouvinte mais questionador poderá afirmar: “mas, se eu comer a galinha, acabo com o devido processo e sua possibilidade de colocar mais ovinhos”. É verdade. Mas, como todas as metáforas, também esta não poderia ser infensa a críticas. Paciência! O importante é ensinar processo tentando mitigar sua complexidade. A saída aqui proposta é o humor.




[1] Bacharel em Direito pela UFC-CE. Especialista em Direito Processual pela UNISUL-SC. Mestrando em Processo Civil pela UFBA-BA. Professor de Processo Civil da Faculdade Paraíso-CE. Técnico Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. Endereço eletrônico: youji_@hotmail.com

quinta-feira, 7 de março de 2013

Abrangente Compreensão

Abrangente Compreensão

Rodolfo Pamplona Filho
É como um oceano...
Não é possível contê-lo...
Ele contém você...
É como estar de pé,
no meio do mar...
Cercado em todas as direções,
com as ondas quebrando
à sua volta
e ameaçando puxar
seu corpo para o fundo...
É como sentir
cada grão de sal
em um mar infinito...
É como conhecer
cada migalha de vida,
das cristas espumantes
às regiões turvas e abissais...
É como ser tocado
por tudo isso...
Essa é a sensação
de entrega total,
de conhecimento final,
do macro dimensionamento
de sentir-se talvez
como um Deus...
Em que pouca importa
o brilho ou a mediocridade,
pois transcender a humanidade
é superar a noção
do nós e eles
ou do certo e errado,
aprendendo a ser
seu próprio barema,
não sendo mais um problema,
entender sua própria realidade...
Apreender profundamente
é ter a perfeita dimensão
do que é e do que não é,
aprendendo a tolerar
a ignorância individual ou coletiva,
socializando a tolerância
e aceitando a imperfeição
na mais abrangente compreensão.

Salvador, 13 de fevereiro de 2012.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Esquecimento. Envelhecimento

 
Esquecimento. Envelhecimento

Estou ficando esquecido.
Tal estado é deveras esquisito.
Só escrevo no tempo passado
Mesmo assim persisto.

O ontem para mim parece hoje.
O amanhã igualmente será passado
Estou ficando fora do compasso.
Tento, insisto. Mas nada há que se renove.

Não é negligência, descuido ou relaxo.
Sinto a maré dos anos a me tragar.
Na sua imensidão devo mergulhar?

Lutar contra este dilema
Parece-me grave problema.
Sem ter-me dado conta - Envelheci!?

(Paulo Basílio - 07/02/2012)

terça-feira, 5 de março de 2013

Trabalho Mal Feito

Trabalho Mal Feito

Rodolfo Pamplona Filho
Por que perder tempo
com um trabalho mal feito,
repleto de pequenos golpes,
construído a galopes,
para tentar convencer
a si mesmo e a quem aparecer,
de que tenha algum valor,
quando está um horror,
e, na realidade,
soa como uma imoralidade
de uma coletânea de chavões,
recheada de bordões,
verdadeiro balaio de gatos,
repleto de atos falhos,
sem cuidados de revisão
ou mesmo de digitação,
como a apostar
que o avaliador nem o lerá
e simplesmente passará
a mão por sua cabeça má...

Salvador, 24 de fevereiro de 2012.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Derridariano...

Derridariano... 



Descontruir escrituras é uma ação perigosa?

Mas, o que ficou à margem da folha de papel porosa?



Todo texto é criptográfico!

Afinal, o dicionário é um álbum fotográfico.



Como seria possível aprender a falar se não houvesse memória?

Toda palavra falada sucede ao texto arquivado pela história.



Sim, não; certo, errado; provável, improvável;

A linguagem apenas adia o incontrolável.



Salvador, 15/02/2012.

Montalvão Bernardo.

domingo, 3 de março de 2013

Além do Bem e do Mal (Soneto)

Além do Bem e do Mal (Soneto)

Rodolfo Pamplona Filho
O sol que ilumina
é o mesmo que incomoda...
A chuva que refresca
é a mesma que inunda...

Não adianta por a culpa
na água ou no calor
ou tentar dar a desculpa,
de que é falta ou excesso de amor,

pois todo aquele que faz o bem,
em si, carrega também
todo o enorme potencial

de destruir qualquer sonho,
ser o pesadelo mais medonho
e infligir, a qualquer um, o mal.

Praia do Forte, 20 de fevereiro de 2012.