sábado, 8 de setembro de 2012

Soneto da Musa Anônima

Soneto da Musa Anônima

Rodolfo Pamplona Filho

Tive musas que nunca souberam
que, de fato, elas eram
a fonte maior de inspiração
da poesia que fluía do meu coração

Já escrevi para professoras,
colegas, alunas, observadoras...
Já me inspirei como quem lavra
em quem nunca troquei uma palavra

Pessoas anônimas ou conhecidas
tornaram-se parte de minha vida
por um ato, expressão ou epifania,

que despertou em mim uma vontade,
uma idéia que virou necessidade:
converter a sensação em poesia.

Salvador, 03 de novembro de 2011.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

FÁBULA DO PAÍS DO ÁLCOOL E DA GASOLINA

FÁBULA DO PAÍS DO ÁLCOOL E DA GASOLINA
- Artigo de Célio Pezza, escrito em 13/10/2011 -
* Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles: 
As Sete Portas, Ariane, e o seu mais recente A Palavra Perdida.
 
Era uma vez, um país que disse ter conquistado a independência energética com o uso do álcool feito a partir da cana de açúcar . Seu presidente falou ao mundo todo sobre a sua conquista e foi muito aplaudido por todos. Na época, este país lendário começou a exportar álcool até para outros países mais desenvolvidos . Alguns anos se passaram e este mesmo país assombrou novamente o mundo quando anunciou que tinha tanto petróleo que seria um dos maiores produtores do mundo e seu futuro como exportador estava garantido.

A cada discurso de seu presidente, os aplausos eram tantos que confundiram a capacidade de pensar de seu povo . O tempo foi passando e o mundo colocou algumas barreiras para evitar que o grande produtor invadisse seu mercado . Ao mesmo tempo adotaram uma política de comprar as usinas do lendário país , para serem os donos do negócio. Em 2011, o fabuloso país grande produtor de combustíveis, apesar dos alardes publicitários e dos discursos inflamados de seus governantes, começou a importar álcool e gasolina
(Quem é inteligente, não fala, FAZ)
Primeiro começou com o álcool, e já importou mais de 400 milhões de litros e deve trazer de fora neste ano um recorde de 1,5 bilhão de litros, segundo o presidente de sua maior empresa do setor, chamada Petrobrás Biocombustíveis. Como o álcool do exterior é inferior, um órgão chamado ANP (Agência Nacional do Petróleo) mudou a especificação do álcool, aumentando de 0,4% para 1,0% a quantidade da água , para permitir a importação . Ao mesmo tempo, este país exporta o álcool de boa qualidade a um preço mais baixo, para honrar contratos firmados .

Como o álcool começou a ser matéria rara, foi mudada a quantidade de álcool adicionada na gasolina, de 25% para 20% , o que fez com que a grande empresa produtora de gasolina deste país precisasse importar gasolina , para não faltar no mercado interno. Da mesma forma, ela exporta gasolina mais barata e compra mais cara , por força de contratos.

A fábula conta ainda que grandes empresas estrangeiras, como a BP (British Petroleum), compraram no último ano, várias grandes usinas produtoras de álcool neste país imaginário , como a Companhia Nacional de Álcool e Açúcar, e já são donas de 25% do setor . A verdade é que hoje, este país exótico exporta o álcool e a gasolina a preços baixos, importa a preços altos um produto inferior, e seu povo paga por estes produtos um dos mais altos preços do mundo . Infelizmente esta fábula é real e o país onde estas coisas irreais acontecem chama-se Brasil

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Discurso Cruel

Discurso Cruel

Rodolfo Pamplona Filho

O discurso da imaturidade
é podre para a humanidade,
por não ter a experiência,
nem sequer a  vivência
de entender o texto,
em todo seu contexto,
buscando pretexto
para o exercício prático
somente pelo prazer sádico
de destruir, mostrando sua suposta
capacidade crítica de resposta.

Para um monstro bebê,
esta é a única forma de viver,
pois não encontram em seu ser
outro jeito de aparecer...
É impossível amadurecer,
sem efetivamente se arrepender
de não ter feito sincera reflexão,
nem buscado a compreensão
das consequências da destilação
de complexos em puro fel
no proferir seu discurso cruel.

Salvador, 17 de julho de 2011.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ouvidos de orvalho

Poema do livro Biografia de uma árvore
Fabricio Carpinejar(
http://www.carpinejar.com.br/textos.htm#Poema do livro Terceira Sede)

Ouvidos de orvalho
Na eternidade, ninguém se julga eterno.
Aqui, nesta estada, penso que vou durar
além dos meus anos, que terei
outra chance de reaver o que não fiz.
Se perdoar é esquecer, me espera o pior:
serei esquecido quando redimido.

Não me perdoes, Deus. Não me esqueças.
O esquecimento jamais devolve seus reféns.

A claridade não se repete. A vida estala uma única vez.

O fogo é uma noz que não se quebra com as mãos.
A voz vem do fogo, que somente cresce se arremessado.
Não há como recuar depois de arder alto.
Fui lançado cedo demais às cinzas.

Somos reacionários no trajeto de volta.
Quando estava indo ao teu encontro,
arrisquei atalhos e travessas desconhecidas.
Acreditei que poderia sair pela entrada.
Ao retornar, não improviso.

Minha conversão é pelo medo,
orando de joelhos diante do revólver,
sem volver aos lados,
na dúvida se é de brinquedo ou de verdade.

O vento faz curva. Não mexo nos bolsos,
na pasta e na consciência,
nenhum gesto brusco de guitarra,
a ciência de uma mira
e o gatilho rodando próximo
do tambor dos dentes.

Derramado em Deus, junto meu desperdício.

Vou te extraviando no ato de nomear.
Melhor seria recuar no silêncio.

Cantamos em coro como animais da escureza.
Os cílios não germinaram.
Falta plantio em nossas bocas, vegetação nas u nhas,
estampas e ervas no peito.
Suplicamos graves e agudos, espasmos e espanto,
compondo esquina com a noite.

Cantar não é desabafo,
mas puxar os sinos
além do nosso peso,
acordando a cúpula de pombas.

Somos fumaça e cera,
limo e telha,
névoa e leme.
O inverno nos inventou.

Não importa se te escuto
ou se explodes meus ouvidos de orvalho:
morre aquilo que não posso conversar?

Ficarei isolado e reduzido,
uma fotografia esvaziada de datas.
Os familiares tentarão decifrar quem fui
e o que prosperou do legado.
Haverei de ser um estranho no retrato
de olhos vivos em papel velho.

Escrevo para ser reescrito.
Ando no armazém da neblina, tenso,
sob ameaça do sol.
Masco folhas, provando o ar, a terra lavada.
Depois de morto, tudo pode ser lido.

Vejo degraus até no vôo.
Tua violência é a suavidade.
Não há queda mais funda
do que não ser o escolhido,
amargar o fim da fila,
ser o que fica para depois,
o que enumera os amigos
pelos obituários de jornal,
o que enterra e se retrai no desterro,
esfacela a rosa ao toque
na palidez das pétalas e velas,
vistoriando cada ruga
e infiltração de heras entre as veias,
nunca adulto para compreender.

Não há nada de natural na morte natural.
Divorciar-se do corpo, tremer ao segurar
as pernas, acomodar-se no finito
de uma cama e deitar com o tumulto
que vem de um túmulo vazio.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Soneto dos Sete Bilhões

Soneto dos Sete Bilhões

Rodolfo Pamplona Filho

Em dois mil e doze, deste mundo,
mais precisamente na data
de trinta e um de outubro,
surgiu mais um bebê no mapa...

Uma criança como outra qualquer,
mas que traz, em si, uma marca:
sete bilhões de seres de pé
é gente que não caberia na arca...

Seja muito bem-vindo, neném,
desejo que seja amado por quem
compartilha o espaço de seu ninho...

Embora com tanta gente no planeta
talvez o maior receio seja,
que, algum dia, você se sinta sozinho

Salvador, 31 de outubro de 2011.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Você não entende nada

Você não entende nada
(Alex Luna)


“quero correr o mundo, correr perigo”

As mulheres tem dois tipos de homens ao redor: canalhas e fofis. Explico: homens tem sentimentos, tesão e vontade, mas só o canalha oferece risco. E este risco é pros dois lados. Quando uma mulher chama um cara de fofis, diz: “vc nao vai me fazer mal. Nem vai me comer.” Um fofis não apresenta riscos. Não cria suspense. Não dá medo que desapareça, não pode partir o seu coração nem fazer as suas pernas tremerem.

“eu quero ir embora, eu quero dar o fora”
O fofis é um covarde: tem medo de se machucar. E de machucar. Assim, evita arriscar-se, consumir colesterol e sexo hardcore. E as mulheres gostam deles, como companhia, pra fazer compras, chorar magoas e falar mal dos homens. Mas tesão eh coisa arriscada. Eh perigosa. Fofis não entende de amor, porque tenta evitar o óbvio: as mulheres têm tesão no perigo.
Elas não querem um cara incapaz de machucar. Querem alguém que seja capaz de fazê-lo mas não o faça. Este é o verdadeiro significado de se entregar.
O medo do fofis faz com que a mulher tenha o controle da relação.

“quero que você venha comigo”
O canalha controla a relação (em termos, claro). Porém, isso significa que pode machucar a mulher. Ou o próprio coração. Ele não pede, manda. A mulher obedece se quiser. Se obedecer, há amor. E um dos dois pode sair machucado, lógico. Mas é o risco que define o tesão. Se as mulheres sentissem tesão por carinho e fofura, casariam entre si.
Mas as mulheres querem beijos apaixonados, daqueles que ardem. Ficar de quatro e levar um tapão na bunda. Começar a tremer de ânsias ao escutar o toque do telefone. Não saber se ele vai ligar. Suspense.

“quero tocar fogo neste apartamento”
Nao tem amor que não queime, posto que é chama. Mas é infinito enquanto dura. Então, como diria Vicente Matheus, “quem tá na chuva é pra se queimar”.
“eu como”

Um canalha não te mandaria este texto assim, escrito. Falaria tudo olhando nos seus olhos, pausadamente. E a última frase seria: “agora cale-se, deixe de drama e me de um beijo”

domingo, 2 de setembro de 2012

Soneto da Virada

Soneto da Virada

Rodolfo Pamplona Filho

Há etapas na vida em que o temor
parece tomar conta de nosso humor
e que tudo que vemos no espelho
é um grande sinal vermelho.

Esta é o momento da convicção!
Esta é a hora da luta pela virada!
É a fase em que toda ação
deve mirar somente esta pegada!

A esperança supera a experiência
e a fé é maior que a ciência
quando se canta a mesma canção

de acreditar que ainda é possível
e que se é capaz do feito incrível
do entusiasmo dramático da reação
Salvador, 01 de novembro de 2011.